É uma necessidade que tenho, olhar paredes. Olhar paredes me empresta um esqueleto, uma arquitetura mínima – é como o caso da mulher que dá de comer às roseiras ... Ontem ela me disse: “o seu problema é chover ao avesso”. Sim, as
metáforas são o lugar intermediário entre esses dois seres, eu e ela. Eu: pedra abstrata entalhada em água férrea. Ela: concha acústica para captar os rumos do que não se quer dizer. Talvez seja o contrário. Talvez seja. Para se amar, é necessário que a anatomia do espelho seja escrita em carta? Ou ao menos dita para o vento? Ou ao menos dita, ou mal dita pelo menos? Calam- se os olhos, e a mulher se desmancha em minha língua. O amor é navegar uma ancora, disse-me ela, com a ironia concêntrica dos olhos. Ela e seu vestido vermelho, cor de céu sonoro. Varre-me, varre-me como um deus varre a chuva, agora, não a ela, mas a ninguém digo, mas sobre ela, é claro: – Tenho grande intimidade com formas e substâncias que mudam de casa e mudam a casa só por lá estarem. Ela diz, e busco estar no instante de cada frase, mas suas frases sem instante; ou será que meus ouvidos escutam pelos olhos? Eu deveria me chamar O-homem-que-morreu-de-espelho, se amo o que vejo, se as imagens me devoram. O meu silêncio, corpo o envolve. Desde que freqüento livros búdicos, fico assim, desse jeito, que até pra comer milharina acho mote pra transcendências. De transcendência à-toa, gosto. Então, penso coisas como: se há uma quarta dimensão, e não três, haveria, também, uma quarta pessoa? um olho que olhasse eu, tu, ele pelo lado de fora, pelo lado de dentro, talvez por entre? Nossa, o que disso escutei, haja Rosa …
Wesley Peres, PalimpsestoS