Aquele dia que assistimos a montagem com a Madalena Kozena do Orfeu de Gluck, você se lembra? É uma das minhas memórias mais fortes. Duas mulheres, para representar a história de Orfeu e Eurídice. Que ideia mais linda.
Eu me lembro até do seu comentário jocoso: “vamos aprender a cantar? Você vira Orfeu e eu vou ser a Eurídice.” Era tão raro você se permitir gostar de qualquer coisa que fosse tida como feminina. Me espantei. Você queria ser Eurídice, se eu fosse Orfeu.
Amor, você não percebe que foi exatamente isso que aconteceu? Fui te buscar no inferno. Vivemos no inferno. Aprendemos a amar no inferno. Não é isso que fazem todos os gays? Tento chegar a alguma conclusão: somos personagens da composição de Gluck ou somos o drama de Monteverdi? O amor vai te fazer renascer, pelo menos em mim? Você está aqui, em alguma medida?