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Eu tenho pra mim que Orfeu sabia que não havia escapatória. Que a palavra de Plutão era final e definitiva, mas ele não conseguiu fazer diferente. Não conseguiu ser diferente. Penso que a visibilidade era uma necessidade. Ver Eurídice. Ser visto por Eurídice. Que vissem ele e Eurídice juntos.

 

Se não, por que olhar? Não consigo me esquecer da cena. Você, rindo. Eu te olhando, mordendo o canto da boca e fazendo um rugido brincalhão, como se fosse um leão. Você olhando de volta, passando a língua nos dentes. Tudo deve ter durado três segundos. Mais três segundos e eles surgiram, do nada. Por que escolheram você, e não eu? Me deixar em meio ao desespero, gritando, sem poder agir, foi parte da crueldade, uma forma máxima de tortura, ou foi um gesto de benevolência? Há algo em mim que os levou a não me bater? Ou a havia algo em você que os levou à violência? Minha vida tem parecido um giro eterno sobre essas questões.

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fotos e site por manoela rónai

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