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Esses dias a Júlia mencionou em sala de aula aquele poema da Ana Cristina César, aquele que começa com “estou com uma coceira no hímen”. Eu que não tenho hímen poderia jurar, os pés bem juntinhos, que senti coçar algo bem ali onde eu teria um, se o tivesse. Me lembrei daquela história que pessoas que amputaram um membro podem passar anos sentido dores no braço ou perna que não têm mais. Dessa forma, não me senti tão estranho em sentir coçar um hímen. Desdesse dia, volta e meia sinto me acontecerem coisas desse tipo de estranheza. Sinto a dor do primeiro coito que uma mulher sentiria quando acordo de sobressalto no meio da tarde. Ou sinto arder algo de virilha a virilha em meio a insônia. Me acostumei com essas instâncias, e sei que é você. É um lugar do corpo onde ficaram guardadas minhas memórias de ti. Não no cérebro, pois nunca te quis tão racional. No hímen. Estão no hímen todos os dias que vivemos juntos. Seu cheiro, sua risada reprimida e seu bafo quente na minha orelha quando dormíamos juntos.Como um órgão mnemótico irreal.

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fotos e site por manoela rónai

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